Artigo publicado originalmente no portal Bem Paraná.

Por Márcia Huçulak*

A pandemia da covid-19, sem dúvida, foi um dos maiores desafios da minha carreira e da minha vida. Quando o mundo todo se fechou e o medo tomou conta de todos nós, a única coisa que eu conseguia pensar era em como salvar o máximo de vidas possível. Eu sabia que o caminho seria árduo, mas não imaginava o quão desgastante emocionalmente ele seria.

Num grande exercício de planejamento e resposta rápida, e com o respaldo do prefeito Rafael Greca e do vice-prefeito Eduardo Pimentel para ampliação do investimento na Saúde em 26% de 2019 para 2020, monitoramos de perto a evolução da doença, garantindo que ninguém ficasse sem atendimento por falta de estrutura ou que o município precisasse recorrer a hospitais de campanha.

Brilhantemente, Curitiba modulou o seu sistema de saúde, utilizando de forma eficiente a estrutura já implantada das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), ampliando as equipes com 2,6 mil novos profissionais no primeiro ano de pandemia e ativando 1.294 leitos hospitalares exclusivos para atender pacientes da covid-19.

Mas ainda não tínhamos a cura nas mãos. E naquela época travávamos batalhas diárias contra o vírus e víamos o desespero nos olhos das famílias, quando sabiam que a vida do ente querido já não dependia mais da estrutura ou dos profissionais de saúde que, com toda resiliência, nunca desistiam, mesmo nos momentos mais sombrios.

Lutávamos sem saber quando todo aquele terror acabaria, quando chegaria a luz no fim do túnel.

Lembro-me claramente do dia em que recebi a notícia de que as primeiras vacinas contra a Covid-19 estavam prestes a chegar ao Brasil. Meu coração bateu mais forte. Sabíamos que as vacinas eram nossa esperança de controle, e de poder, finalmente, respirar com um pouco de alívio. Mas garantir que elas chegassem até nós, aqui em Curitiba, era uma batalha por si só. A logística envolvia uma verdadeira corrida contra o tempo e o vírus.

Foram dias de trabalho exaustivo, em que eu e toda a equipe da Secretaria Municipal da Saúde nos desdobramos para garantir que as vacinas chegassem e fossem distribuídas da maneira mais eficiente possível. Montamos estratégias de armazenamento, transporte e aplicação com precisão cirúrgica para que não houvesse o desperdício de uma gota sequer, sempre com um único objetivo em mente: salvar vidas.

Garantir que essas vacinas chegassem a Curitiba e fossem distribuídas rapidamente foi uma tarefa que exigiu uma coordenação sem precedentes e o apoio inequívoco do prefeito Rafael Greca e do vice-prefeito Eduardo Pimentel, com o qual eu pude contar durante toda a caminhada.

Assim, nasceu o Pavilhão da Cura, que se tornou um local de esperança. Foi ali que montamos a maior estrutura de vacinação em massa da História de Curitiba, acolhendo milhares de pessoas que buscavam proteção contra a Covid-19. O nome “Pavilhão da Cura” simbolizava nossa luta pela vida e pelo futuro. Greca, Eduardo e eu comemoramos. Cada dose aplicada era um passo em direção ao fim da pandemia. O sentimento de alívio ao ver as primeiras pessoas sendo vacinadas foi indescritível. Ali, começava a nascer um fio de esperança.

Mas havia algo que ainda me inquietava profundamente. Enquanto batalhávamos com todas as nossas forças para salvar vidas, surgia um outro obstáculo: o movimento antivacina. Foi doloroso ver pessoas desacreditando algo que sabíamos que era a única arma verdadeira contra a pandemia.

A desinformação e o medo espalhados nas redes sociais faziam com que muitas pessoas recusassem a vacina, colocando suas vidas e as de outros em risco. Foi doloroso assistir a isso. Cada pessoa não vacinada representava uma brecha na nossa defesa coletiva. A vacina não é apenas um ato individual, mas um compromisso com o bem-estar de todos. Quando muitos se recusam a se imunizar, colocam em perigo os mais vulneráveis da sociedade.

Vacinas não protegem apenas o indivíduo que as toma. Elas criam uma barreira de proteção coletiva. Quando uma parcela da população se recusa a ser vacinada, essa proteção é enfraquecida, e o vírus ganha espaço para continuar circulando, infectando os mais vulneráveis, como os idosos, os imunossuprimidos e até mesmo crianças.

A luta contra a pandemia não era apenas contra o vírus, mas também contra essa desinformação que, de forma irresponsável, estava matando pessoas. Cada vez que via uma notícia sobre uma pessoa que faleceu por não ter se vacinado, eu sentia um aperto no peito. Era um misto de tristeza e revolta. Tínhamos a cura em nossas mãos, mas muitos escolhiam virar as costas para ela.

Felizmente, com um trabalho árduo, conseguimos desmitificar as fake news dos grupos antivax, e os curitibanos aderiram grandemente à imunização, o que permitiu proteger a nossa população e vencer a guerra. Hoje, já são mais de 5,8 milhões de vacinas anticovid aplicadas em nossa população.

Olhando para trás, o sentimento que fica é de gratidão ao prefeito Rafael Greca e ao vice Eduardo, por todas as vidas que conseguimos salvar. O Pavilhão da Cura e as vacinas foram pilares dessa jornada. No entanto, a pandemia nos deixou uma lição dura: precisamos lutar não apenas contra os vírus físicos, mas também contra os “vírus” da desinformação, que podem ser igualmente letais.

A ciência sempre será nossa maior aliada, e jamais podemos desistir de buscar a verdade e proteger nossa população, mesmo diante das vozes que tentam nos desviar do caminho. Cada vida importa, e não podemos descansar enquanto houver uma chance de salvar mais uma.

Cada vida que salvamos faz valer a pena todo o esforço.

*Márcia Huçulak, ex-secretária de saúde de Curitiba, com especialização em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz e mestrado em gestão de saúde pela Universidade de Londres, é deputada estadual pelo PSD.

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