Artigo publicado originalmente no jornal Bem Paraná, em 06 de março de 2023. Acesse o link direto.

Por Márcia Huçulak, gestora de saúde pública com mestrado na Universidade de Londres, ex-secretária de saúde de Curitiba, é deputada estadual pelo PSD-PR.

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Somos a geração do século XXI. A Humanidade evoluiu em vários aspectos. Tivemos muitas melhorias na área social, econômica, tecnológica, nos meios de comunicação e na infraestrutura.

Não foi diferente com a saúde, com inúmeros e importantes avanços. O aumento da expectativa de vida é um bom exemplo. Em 1970, vivíamos em média até os 57 anos. Em 2023, a expectativa de vida dos brasileiros é de 80 anos. Essa evolução se deve à descoberta de tratamento para muitas doenças, além do desenvolvimento de tecnologias e equipamentos diagnósticos e terapêuticos que nos proporcionam melhores condições de vida e de saúde.

Na área da prevenção das doenças, surgiram as vacinas. Vencemos, por exemplo, a varíola, doença infecciosa e contagiosa que ceifou muitas vidas no início do século passado. O mesmo aconteceu com o tétano neonatal (chamado o mal de sete dias). Não faz muito tempo, a mortalidade infantil por doenças preveníveis era considerada uma situação quase normal entre as famílias.

O desenvolvimento das vacinas é fruto de pesquisas intensas e do senso crítico dos profissionais de saúde. Com elas, veio a esperança de vida melhor. Inúmeras doenças que levavam à morte ou causavam sequelas graves desapareceram e foram sendo quase esquecidas graças à eficiência dos imunizantes.

Além da varíola, a paralisia infantil, o sarampo, a rubéola, a caxumba, a difteria e tétano, a tuberculose, a meningite, a febre amarela e a hepatite B são exemplos de doenças prevenidas pela vacinação.

A geração de pais e mães do século XXI não viu e não sabe o que é ver um filho desenvolver surdez, lesão cerebral ou morrer por sarampo. Ou ter uma criança com sequelas graves para a vida toda em decorrência da paralisia infantil.

Neste século XXI, a comunicação também se desenvolveu bastante,  ganhou velocidade, carregando ao mesmo tempo um capítulo triste de trevas do conhecimento, com repetição exaustiva de “evidências do contrário”, versando que vacina faz mal, altera o DNA, entre outros despropósitos.

A desinformação ganhou força. As “fake news” propalam um sem- número de bobagens repetidas por gente sem a menor condição de opinar sobre ciência e evidência científica.

A ciência sempre pressupõe dúvida e muita análise, eliminando os chamados “bias” (distorção do julgamento por uma inclinação irracional em atribuir um julgamento mais favorável ou desfavorável a algo).

Foi assim durante a pandemia de covid-19. Gente que “sabia tudo sobre um vírus novo”, enquanto a verdadeira ciência ainda buscava entender realmente o problema.

A negação faz parte de muitas situações da vida das pessoas. É um fenômeno estudado pela psicologia para ajudar as pessoas a enfrentar situações que muitas vezes envolve frustrações e perdas – os imponderáveis na vida.

É muito preocupante que haja pessoas que negam os efeitos das vacinas. Neste caso, é necessário ressaltar um ponto importantíssimo: a decisão individual de não tomar vacinas afeta o coletivo.

Quando uma pessoa decide não tomar o remédio para sua diabetes, as consequências afetam apenas ela mesma. Já a decisão de não aplicar qualquer vacina afeta a comunidade inteira, na medida em que a baixa cobertura vacinal permite ao agente patógeno (como o vírus do sarampo ou da covid-19) voltar a circular entre a população, atingindo a todos indistintamente.

Este tipo de situação tem e terá consequências irreversíveis na vida das pessoas e também para a sociedade.

Após dois séculos do desenvolvimento das primeiras vacinas no mundo e 50 anos do Plano Nacional de Imunização no Brasil podemos afirmar categoricamente que as vacinas são seguras. Elas eliminaram doenças graves e contribuíram para a redução da mortalidade infantil e das seqüelas. Ou seja, permitiram às pessoas viver mais e melhor.

Mesmo com tantas evidências claras, há incrédulos que negam as vacinas.

Como ex-secretária de saúde e agora deputada estadual me vejo na obrigação de usar o meu conhecimento e experiência profissional para elucidar as pessoas e instituições para que reflitam sobre a importância de se vacinar e vacinar suas crianças, além de incentivar jovens, adultos e idosos a receberem as doses dos imunizantes.

Os efeitos da negação à vacina são muito graves. Cito um exemplo entre inúmeros: no início de 2020 tivemos três óbitos por influenza (gripe) em Curitiba de pessoas na faixa de 60 a 70 anos. Esses casos tinham em comum o fato de nenhuma delas ter tomado a vacina contra o vírus da influenza, embora sobrassem doses nas unidades de saúde. Seguramente, cada uma dessas pessoas poderia ter vivido mais 10 ou 20 anos.

Recentemente o Ministério da Saúde lançou o Movimento pela Vacinação no país. É uma ação importante para que possamos avançar na melhoria da cobertura vacinal nas cidades. Se você quer um país melhor, com mais desenvolvimento social e econômico, mais vida e saúde, vacine-se!

O impacto econômico de uma doença para a sociedade ficou muito bem evidenciado com a pandemia. Relembrando uma frase que disse durante a pandemia, no esforço de fazer valer conceitos consagrados da ciência, e acabou sendo bastante usada: “quer que desenhe?!”

O desenho é claro. Vacina é vida! Vacina é esperança!

*Márcia Huçulak, gestora de saúde pública com mestrado na Universidade de Londres, ex-secretária de saúde de Curitiba, é deputada estadual pelo PSD-PR.